Um teto com estrelas
E então ele apareceu para contrariar todos os filmes de amor
que eu havia me inspirado. Sem cabelos arrumados nem roupas bonitas, nem sequer
esbarrou comigo enquanto virávamos a esquina – esbarramo-nos em outras
esquinas. Benjamim não era um rapaz bonito nem admirável. Na verdade, tinha
cabelos engraçados, espinhas e um jeito de quem nunca visitara a cidade. Mesmo
falando errado, cheio de gírias e manias, alguma coisa nele me agradou. Vai
entender. Troquei o príncipe pelo sapo e aí sim fui feliz. Com ele, as coisas
eram simples e verdadeiras, a vida tornou-se meiga e fácil. Ninguém na rua nos
desejava mal nem tinham olhares invejosos quando passávamos de mãos dadas. Troquei
o vestido de festa por short e camiseta e aí sim fui feliz. Encontrei a felicidade
enquanto usava sandália e não salto alto, amarrando meu cabelo em um rabo de
cavalo e sem me preocupar com maquiagem. Ah, a vida passou tão devagar assim,
nos primeiros meses, quando parávamos em um sábado para assistir ao filme da TV
e ligar para a pizzaria e comê-la todinha antes de virar dia. Ah, o
"sapo" me engordou, mas gostou mais de mim assim. Quer dizer, a calça
38 não cabia mais em mim e ele nunca reclamou. E então eu descobri assim,
enquanto vivia devagar, que viver em uma cabana, às vezes, é melhor do que
morar em um castelo.
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