Volta amanhã
Olha, perdoa-me pela minha loucura, talvez você não vá querer me olhar depois de tudo isso, mas se eu te disser sim, agora, o nosso amor estará destinado a morrer. Se eu aceitar ser sua, aceitar os seus presentes e essas rosas bonitas, a nossa contagem regressiva iniciará e dentre alguns meses nos transformaremos de tudo a nada. Digo, serão perfeitos os primeiros dois meses ou três. Você me ligará todos os dias para me dar boa noite e irei dormir sorrindo como se o seu amor pudesse solucionar todos os meus problemas. Iremos caminhar de mãos dadas até a praça, ao shopping, à praia. Você irá conhecer minha família – que te amarão – e eu a sua. A nossa intimidade aumentará, eu irei te dizer que o amo todos os dias, terei ciúmes até das suas amigas de infância e brigaremos por isso. Eu chorarei por sua causa, farei poesias idiotas a respeito, reclamarei de você para minhas amigas e elas falarão para eu não ligar, afinal, você é um babaca. Logo após ficaremos bem. Melhores do nunca, na verdade. Nosso amor é maior que qualquer discursão. Voltarei a dormir sorrindo.
Haverá um dia que você
se esquecerá de me ligar à noite, porque chegou cansado demais em casa ou por
qualquer outro motivo. Eu ficarei um pouco triste, mas não me manifestarei. As
semanas vão passando e eu não sinto mais vontade de ir à praça ou ao shopping,
nem de te contar como foi o meu dia. Distanciarem-nos um pouco, sem perceber, e
as nossas conversas perderão o assunto, o beijo perderá a intensidade, tudo
ficará calmo, calmo. Você sentirá falta de ser solteiro quando os seus amigos
te chamarem para beber e eu sentirei falta de não ter obrigação nenhuma com
ninguém nas sextas-feiras. E o fim se declarará, já não queremos mais um ao
outro tanto quanto antes, o que ainda nos prende é o costume. E depois? Depois o
que? Perguntaremos saudosos: “o que aconteceu com a gente?” e perceberemos que
não dá mais para continuar assim. E então, nosso amor se torna história e
apenas.
Perdoa-me, mas não
posso deixar você se tornar em nada. Eu te amo demais para isso. Prefiro te ver
chorar, agora, mas sorrirmos juntos por uma vida inteira à ter algumas
lembranças boas que não nos levarão a nada. Prefiro que você não me veja por quatro
dias e no quinto apareça morrendo de saudades, a te ver todos os dias sentindo
a mesma coisa, sem intensidade alguma. Quero te ter como meu amado tendo a mesma adrenalina de um
amante. Não quero que você
entre na minha rotina, você pode ser o meu algo-novo todos os dias?
Perdoa-me, perdoa-me,
meus dias de simplicidade já se foram. Vai, também, você, e volta amanhã com as
mesmas flores, mas sem pedido nenhum. Não precisamos de nenhum contrato, nada
oficial que nos dê o sentimento de posse. Já somos um do outro por natureza do nosso
amor.
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